Hemoculturas: Importância, Procedimento e Redução da Contaminação
- Diana Fonseca
- 20 de fev.
- 4 min de leitura

As hemoculturas desempenham um papel fundamental no diagnóstico e tratamento de infeções graves, como a sépsis, a endocardite e outras bactérias. A correta colheita e manuseamento das amostras são essenciais para garantir resultados fiáveis, evitando falsos positivos devido a contaminação ou falsos negativos que podem atrasar o início do tratamento adequado.
A importância da colheita correta
A fase pré-analítica é determinante para a precisão dos resultados das hemoculturas. Estudos demonstram que uma colheita inadequada pode resultar em taxas elevadas de contaminação, comprometendo a interpretação clínica dos resultados. A adoção de boas práticas, como a desinfeção rigorosa do local da punção e o uso de técnicas asséticas, reduz significativamente este risco.
De acordo com um estudo publicado na Revista Portuguesa de Enfermagem, a implementação de protocolos padronizados e a formação contínua dos profissionais de saúde estão associadas a uma redução significativa dos erros na colheita de hemoculturas.
Modo de realização da colheita
A colheita de hemocultura deve seguir uma metodologia rigorosa para garantir a precisão dos resultados e evitar contaminações. O procedimento envolve os seguintes passos:
Preparação do material:
Luvas esterilizadas
Álcool a 70% ou solução de clorohexidina alcoólica para desinfeção da pele
Campo estéril
Agulha ou sistema de punção fechado (vacutainer ou seringa estéril)
Frascos de hemocultura (aeróbio e anaeróbio)
Garrote
Compressas estéreis
Ligadura ou adesivo para curativo
Tipos de frascos de hemocultura:
Frasco aeróbio (Tampa Azul): Utilizado para a deteção de bactérias que necessitam de oxigénio para crescer, como Staphylococcus aureus e Escherichia coli.
Frasco anaeróbio (Tampa Roxa): Indicado para microrganismos que crescem em ambiente sem oxigénio, como Clostridium spp..
Desinfeção rigorosa do local da punção:
O local da punção deve ser desinfetado com clorohexidina alcoólica, deixando secar durante pelo menos 30 segundos para uma ação antimicrobiana eficaz.
Evitar tocar na zona desinfetada antes da punção para minimizar riscos de contaminação.
Colheita da amostra:
Utilizar uma técnica asséptica rigorosa.
Colher o volume adequado de sangue (8-10 mL por frasco) para maximizar a sensibilidade da cultura.
Se possível, colher amostras de pelo menos dois locais anatómicos distintos para aumentar a probabilidade de deteção de microrganismos verdadeiros.
Transferir o sangue diretamente para os frascos de hemocultura sem remover a tampa de borracha, utilizando um sistema de transferência adequado.
Identificação e transporte da amostra:
Identificar corretamente os frascos com os dados do utente.
Transportar rapidamente as amostras para o laboratório, idealmente a uma temperatura controlada, garantindo que sejam processadas no menor tempo possível.
Principais agentes patogénicos e contaminantes

Na interpretação das hemoculturas, é essencial distinguir entre agentes patogénicos verdadeiros e contaminantes. Os principais microrganismos responsáveis por infeções na corrente sanguínea incluem:
Escherichia coli
Staphylococcus aureus
Klebsiella pneumoniae
Por outro lado, microrganismos como Staphylococcus epidermidis, Staphylococcus hominis e Staphylococcus haemolyticus são frequentemente identificados como contaminantes devido a uma colheita inadequada.
Resultados e interpretação das hemoculturas
Os resultados das hemoculturas podem ser classificados em três categorias principais:
Positivo: Indica a presença de microrganismos patogénicos na corrente sanguínea, confirmando uma infeção ativa. Nestes casos, o tratamento antibiótico deve ser iniciado com base no perfil de sensibilidade do agente isolado.
Negativo: Quando não há crescimento microbiano após o tempo adequado de incubação, excluindo infeção na corrente sanguínea.
Falso positivo (contaminação): Ocorre quando microrganismos não patogénicos, provenientes da pele ou do ambiente, são erroneamente identificados como infecciosos. A contaminação pode ser suspeitada quando apenas um dos frascos colhidos apresenta crescimento de microrganismos típicos da flora cutânea.
Estratégias para reduzir a contaminação
A contaminação das hemoculturas pode levar a diagnósticos incorretos, prolongamento da hospitalização e tratamentos desnecessários com antibióticos. Para minimizar este risco, é essencial adotar estratégias eficazes, tais como:
Formação contínua dos profissionais de saúde – Treinos regulares sobre técnicas de colheita e procedimentos asséticos.
Utilização de materiais adequados – Como frascos de hemocultura com desinfetantes internos e agulhas estéreis.
Higienização rigorosa do local da punção – Utilização de clorohexidina alcoólica para desinfeção.
Colheita em múltiplos locais anatómicos – Para aumentar a sensibilidade do exame e reduzir a probabilidade de contaminação.
Monitorização contínua da taxa de contaminação – Avaliação dos resultados laboratoriais para identificar oportunidades de melhoria.

Conclusão
A precisão das hemoculturas é essencial para um diagnóstico e tratamento adequados das infeções na corrente sanguínea. A adoção de práticas rigorosas na fase pré-analítica e a formação contínua dos profissionais de enfermagem são fundamentais para reduzir taxas de contaminação e garantir um tratamento eficaz e seguro para os utentes.
A enfermagem desempenha um papel crucial neste processo, garantindo que a colheita seja realizada de forma estéril e conforme as melhores práticas. Assim, um compromisso contínuo com a qualidade e a segurança é essencial para otimizar os cuidados prestados e melhorar os desfechos clínicos.
Referências e Autores
Revista Portuguesa de Enfermagem – Estudos sobre hemoculturas e prevenção da contaminação
Sociedade Europeia de Microbiologia Clínica e Doenças Infeciosas (ESCMID) – Diretrizes sobre colheita de hemoculturas
Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) – Protocolos internacionais de colheita e transporte de hemoculturas
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