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Hemoculturas: Importância, Procedimento e Redução da Contaminação


As hemoculturas desempenham um papel fundamental no diagnóstico e tratamento de infeções graves, como a sépsis, a endocardite e outras bactérias. A correta colheita e manuseamento das amostras são essenciais para garantir resultados fiáveis, evitando falsos positivos devido a contaminação ou falsos negativos que podem atrasar o início do tratamento adequado.


A importância da colheita correta


A fase pré-analítica é determinante para a precisão dos resultados das hemoculturas. Estudos demonstram que uma colheita inadequada pode resultar em taxas elevadas de contaminação, comprometendo a interpretação clínica dos resultados. A adoção de boas práticas, como a desinfeção rigorosa do local da punção e o uso de técnicas asséticas, reduz significativamente este risco.

De acordo com um estudo publicado na Revista Portuguesa de Enfermagem, a implementação de protocolos padronizados e a formação contínua dos profissionais de saúde estão associadas a uma redução significativa dos erros na colheita de hemoculturas.


Modo de realização da colheita


A colheita de hemocultura deve seguir uma metodologia rigorosa para garantir a precisão dos resultados e evitar contaminações. O procedimento envolve os seguintes passos:


  1. Preparação do material:

    • Luvas esterilizadas

    • Álcool a 70% ou solução de clorohexidina alcoólica para desinfeção da pele

    • Campo estéril

    • Agulha ou sistema de punção fechado (vacutainer ou seringa estéril)

    • Frascos de hemocultura (aeróbio e anaeróbio)

    • Garrote

    • Compressas estéreis

    • Ligadura ou adesivo para curativo


  2. Tipos de frascos de hemocultura:

    • Frasco aeróbio (Tampa Azul): Utilizado para a deteção de bactérias que necessitam de oxigénio para crescer, como Staphylococcus aureus e Escherichia coli.

    • Frasco anaeróbio (Tampa Roxa): Indicado para microrganismos que crescem em ambiente sem oxigénio, como Clostridium spp..

  3. Desinfeção rigorosa do local da punção:

    • O local da punção deve ser desinfetado com clorohexidina alcoólica, deixando secar durante pelo menos 30 segundos para uma ação antimicrobiana eficaz.

    • Evitar tocar na zona desinfetada antes da punção para minimizar riscos de contaminação.


  4. Colheita da amostra:

    • Utilizar uma técnica asséptica rigorosa.

    • Colher o volume adequado de sangue (8-10 mL por frasco) para maximizar a sensibilidade da cultura.

    • Se possível, colher amostras de pelo menos dois locais anatómicos distintos para aumentar a probabilidade de deteção de microrganismos verdadeiros.

    • Transferir o sangue diretamente para os frascos de hemocultura sem remover a tampa de borracha, utilizando um sistema de transferência adequado.


  5. Identificação e transporte da amostra:

    • Identificar corretamente os frascos com os dados do utente.

    • Transportar rapidamente as amostras para o laboratório, idealmente a uma temperatura controlada, garantindo que sejam processadas no menor tempo possível.


Principais agentes patogénicos e contaminantes


Na interpretação das hemoculturas, é essencial distinguir entre agentes patogénicos verdadeiros e contaminantes. Os principais microrganismos responsáveis por infeções na corrente sanguínea incluem:

  • Escherichia coli

  • Staphylococcus aureus

  • Klebsiella pneumoniae


Por outro lado, microrganismos como Staphylococcus epidermidis, Staphylococcus hominis e Staphylococcus haemolyticus são frequentemente identificados como contaminantes devido a uma colheita inadequada.


Resultados e interpretação das hemoculturas


Os resultados das hemoculturas podem ser classificados em três categorias principais:


  • Positivo: Indica a presença de microrganismos patogénicos na corrente sanguínea, confirmando uma infeção ativa. Nestes casos, o tratamento antibiótico deve ser iniciado com base no perfil de sensibilidade do agente isolado.

  • Negativo: Quando não há crescimento microbiano após o tempo adequado de incubação, excluindo infeção na corrente sanguínea.

  • Falso positivo (contaminação): Ocorre quando microrganismos não patogénicos, provenientes da pele ou do ambiente, são erroneamente identificados como infecciosos. A contaminação pode ser suspeitada quando apenas um dos frascos colhidos apresenta crescimento de microrganismos típicos da flora cutânea.


Estratégias para reduzir a contaminação


A contaminação das hemoculturas pode levar a diagnósticos incorretos, prolongamento da hospitalização e tratamentos desnecessários com antibióticos. Para minimizar este risco, é essencial adotar estratégias eficazes, tais como:


  1. Formação contínua dos profissionais de saúde – Treinos regulares sobre técnicas de colheita e procedimentos asséticos.

  2. Utilização de materiais adequados – Como frascos de hemocultura com desinfetantes internos e agulhas estéreis.

  3. Higienização rigorosa do local da punção – Utilização de clorohexidina alcoólica para desinfeção.

  4. Colheita em múltiplos locais anatómicos – Para aumentar a sensibilidade do exame e reduzir a probabilidade de contaminação.

  5. Monitorização contínua da taxa de contaminação – Avaliação dos resultados laboratoriais para identificar oportunidades de melhoria.



Conclusão


A precisão das hemoculturas é essencial para um diagnóstico e tratamento adequados das infeções na corrente sanguínea. A adoção de práticas rigorosas na fase pré-analítica e a formação contínua dos profissionais de enfermagem são fundamentais para reduzir taxas de contaminação e garantir um tratamento eficaz e seguro para os utentes.

A enfermagem desempenha um papel crucial neste processo, garantindo que a colheita seja realizada de forma estéril e conforme as melhores práticas. Assim, um compromisso contínuo com a qualidade e a segurança é essencial para otimizar os cuidados prestados e melhorar os desfechos clínicos.







Referências e Autores

Revista Portuguesa de Enfermagem – Estudos sobre hemoculturas e prevenção da contaminação

Sociedade Europeia de Microbiologia Clínica e Doenças Infeciosas (ESCMID) – Diretrizes sobre colheita de hemoculturas

Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) – Protocolos internacionais de colheita e transporte de hemoculturas

Cockerill, F. R., & Wilson, J. W. (2013). Principles and procedures for blood cultures: Approved guideline. Clinical and Laboratory Standards Institute.

Garcia, R. A., Spitzer, E. D., & Beekmann, S. E. (2017). Blood culture contamination: A review of clinical impact and preventive strategies. Journal of Clinical Microbiology, 55(5), 1237-1245.

Hall, K. K., & Lyman, J. A. (2006). Updated review of blood culture contamination rates and strategies to limit false positives. Clinical Microbiology Reviews, 19(4), 788-802.

Weinstein, M. P. (2018). Blood culture contamination: Persisting problems and partial progress. Journal of Clinical Microbiology, 56(9), e01914-17.

 
 
 

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